Não é rara a publicação de fatos e estatísticas que
demosntram o quanto a população negra do Brasil ainda tem que lidar com
preconceito e discriminação. Há muita gente, no entanto, certa de que o racismo
foi abolido da nossa sociedade. Para marcar o dia da Consciência Negra, neste
20 de novembro, o R7 conversou
com pessoas que enfrentaram situações humilhantes em decorrência da cor de sua
pele. Os relatos nos colocam de frente para uma realidade que acontece todos os
dias, mas insistimos em mascarar.
"Desde que me apresentei ao mundo, sofro
racismo"
Em setembro, a dançarina Dandara Marques foi vítima de racismo nas redes sociais. Em uma postagem em que ela aparecia com os cabelos soltos em uma página de beleza negra de Pernambuco, um internauta escreveu “me dê uma caixa de fósforos que faço progressiva nessa infeliz”. O caso ganhou repercussão nacional e, mais de um mês depois do ocorrido, as medidas legais para prender o suspeito estão em andamento.
Quando se deparou com a situação, Dandara diz que ficou, primeiramente, “sem entender bem” o que tinha acontecido. As palavras do suspeito deixaram a dançarina com um “sentimento ameaçador”, mas ela não ficou calada.
— Logo após me veio em mente que eu precisava fazer algo, fazer uma denúncia e efetivar o meu direito [...] Desde que me apresentei ao mundo, sofro racismo, mas não dessa forma. Não através de uma rede social que boa parte do mundo tem acesso.
Segundo ela, “ver o negro esclarecido na sociedade, para alguns, é algo inacreditável” e os negros precisam se fortalecer para combater qualquer tipo de racismo que sofram. Ela diz que algumas pessoas chegaram a falar com ela depois do episódio traumatizante para dizer que se sentiram representadas e encorajadas para denunciar outros atos racistas.
— Me sinto agradecia pela contribuição de todos, que foi também através dessa força que venho conseguindo dar continuidade ao caso
Em setembro, a dançarina Dandara Marques foi vítima de racismo nas redes sociais. Em uma postagem em que ela aparecia com os cabelos soltos em uma página de beleza negra de Pernambuco, um internauta escreveu “me dê uma caixa de fósforos que faço progressiva nessa infeliz”. O caso ganhou repercussão nacional e, mais de um mês depois do ocorrido, as medidas legais para prender o suspeito estão em andamento.
Quando se deparou com a situação, Dandara diz que ficou, primeiramente, “sem entender bem” o que tinha acontecido. As palavras do suspeito deixaram a dançarina com um “sentimento ameaçador”, mas ela não ficou calada.
— Logo após me veio em mente que eu precisava fazer algo, fazer uma denúncia e efetivar o meu direito [...] Desde que me apresentei ao mundo, sofro racismo, mas não dessa forma. Não através de uma rede social que boa parte do mundo tem acesso.
Segundo ela, “ver o negro esclarecido na sociedade, para alguns, é algo inacreditável” e os negros precisam se fortalecer para combater qualquer tipo de racismo que sofram. Ela diz que algumas pessoas chegaram a falar com ela depois do episódio traumatizante para dizer que se sentiram representadas e encorajadas para denunciar outros atos racistas.
— Me sinto agradecia pela contribuição de todos, que foi também através dessa força que venho conseguindo dar continuidade ao caso
Estética
O caso de racismo sofrido por Dandara não é isolado. De acordo com o secretário especial de políticas de promoção da igualdade racial da Presidência, Ronaldo Barros, grande parte do preconceito está ligada ao fato de o racista perceber que o negro que sempre “serviu” a ele está conquistando outros espaços e que eles precisam, cada vez mais, ter oportunidades para gerar uma representatividade da população negra em grandes espaços de decisão.
— Nós [negros] somos 53% da população. A representatividade cria uma referência positiva e é crucial para que evite esse problema.
Analisando o casting de modelos de uma das maiores agências do mundo, podemos observar que de um total de quase 250 modelos, apenas 20 delas são negras. Recentemente, a atriz Viola Davis entrou para a história por ser a primeira mulher negra a ganhar um Emmy como melhor atriz em série de drama
O caso de racismo sofrido por Dandara não é isolado. De acordo com o secretário especial de políticas de promoção da igualdade racial da Presidência, Ronaldo Barros, grande parte do preconceito está ligada ao fato de o racista perceber que o negro que sempre “serviu” a ele está conquistando outros espaços e que eles precisam, cada vez mais, ter oportunidades para gerar uma representatividade da população negra em grandes espaços de decisão.
— Nós [negros] somos 53% da população. A representatividade cria uma referência positiva e é crucial para que evite esse problema.
Analisando o casting de modelos de uma das maiores agências do mundo, podemos observar que de um total de quase 250 modelos, apenas 20 delas são negras. Recentemente, a atriz Viola Davis entrou para a história por ser a primeira mulher negra a ganhar um Emmy como melhor atriz em série de drama
"Quando criança, eu tive meu cabelo
alisado"
Michelle Fernandes sentia falta de roupas e acessórios no mercado que atendessem à sua demanda. Então, para emponderar mulheres negras e fazer com que elas se expressassem, ela criou a Boutique de Krioula. A empreendedora diz que “queria ser vista como mulher negra e com todas as minhas características”.
— A demanda está grande, 54% da população é negra e, com as pessoas se emponderando, elas estão querendo mostrar que são negras, querem comprar coisas que as representem.
A marca vende, por exemplo, turbantes que resgatam a cultura africana e deixam as mulheres negras ainda mais confiantes. Para Michelle, tudo depende do exemplo dos pais, que têm que mostrar desde cedo como a criança é bela do jeito que ela nasceu.
— Quando criança, eu tive meu cabelo alisado e vivi sem saber como era meu cabelo. Botaram na minha cabeça que é ele era dessa forma. Agora, os pais estão falando outras coisas para as crianças. É uma questão de referência
Michelle Fernandes sentia falta de roupas e acessórios no mercado que atendessem à sua demanda. Então, para emponderar mulheres negras e fazer com que elas se expressassem, ela criou a Boutique de Krioula. A empreendedora diz que “queria ser vista como mulher negra e com todas as minhas características”.
— A demanda está grande, 54% da população é negra e, com as pessoas se emponderando, elas estão querendo mostrar que são negras, querem comprar coisas que as representem.
A marca vende, por exemplo, turbantes que resgatam a cultura africana e deixam as mulheres negras ainda mais confiantes. Para Michelle, tudo depende do exemplo dos pais, que têm que mostrar desde cedo como a criança é bela do jeito que ela nasceu.
— Quando criança, eu tive meu cabelo alisado e vivi sem saber como era meu cabelo. Botaram na minha cabeça que é ele era dessa forma. Agora, os pais estão falando outras coisas para as crianças. É uma questão de referência
Consumo
Muitas vezes, crianças e adultos negros ouvem de todos os lados que o cabelo deles “é ruim”. A professora de história Juliana Serzedello Lopes diz que esse tipo de racismo vem travestido de “liberdade de expressão”, mas que isso não é uma opinião.
— A liberdade é válida a partir do momento em que você não fere outra pessoa.
Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as negras representam um quarto da população do Brasil. Mesmo assim, uma rápida análise feita com três marcas nacionais mostra, por exemplo, que existem três vezes mais opções de maquiagem para a mulher branca do que para a mulher negra. Enquanto para a pele branca encontramos sete variações, apenas três são destinadas a mulher negra
Muitas vezes, crianças e adultos negros ouvem de todos os lados que o cabelo deles “é ruim”. A professora de história Juliana Serzedello Lopes diz que esse tipo de racismo vem travestido de “liberdade de expressão”, mas que isso não é uma opinião.
— A liberdade é válida a partir do momento em que você não fere outra pessoa.
Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as negras representam um quarto da população do Brasil. Mesmo assim, uma rápida análise feita com três marcas nacionais mostra, por exemplo, que existem três vezes mais opções de maquiagem para a mulher branca do que para a mulher negra. Enquanto para a pele branca encontramos sete variações, apenas três são destinadas a mulher negra
“A USP é um ambiente que negros têm presença
quase invisível”
O professor Douglas Belchior dá aulas na rede pública estadual de São Paulo e é militante do movimento negro. Ele diz que o Brasil tem um pressuposto de ser “um país profundamente e violentamente racista” e que, uma sociedade que se formou a partir de quase 400 anos de escravidão, traz um ranço histórico do problema.
— Espaços de privilégios se formaram para atender às elites brancas. A presença de negros nesse espaço incomoda demais.
Para ele, isso também é visto no ambiente acadêmico de universidades tradicionais, por exemplo. Belchior diz que a presença de negros em espaço de poder e privilégios gera uma estranheza. Ele diz que existem até relatos de professores negros que têm dificuldade de fazer seu trabalho.
— A presença de professores negros é tão rara como de estudantes. A USP é um ambiente em que negros têm presença quase invisível. Sempre foi uma presença ínfima, [recentemente] ela aumentou, mas não foi um aumento profundo. Uma sala que tinha dois negros passou a ter quatro.
Para ele, o que muda é que essa é uma presença organizada e que gera confrontos. Pois os negros nesses ambientes não toleram mais o racismo.
— Na escola pública isso é meio diferente porque, como é um ambiente precário, é mais permitida [a presença de negros]
O professor Douglas Belchior dá aulas na rede pública estadual de São Paulo e é militante do movimento negro. Ele diz que o Brasil tem um pressuposto de ser “um país profundamente e violentamente racista” e que, uma sociedade que se formou a partir de quase 400 anos de escravidão, traz um ranço histórico do problema.
— Espaços de privilégios se formaram para atender às elites brancas. A presença de negros nesse espaço incomoda demais.
Para ele, isso também é visto no ambiente acadêmico de universidades tradicionais, por exemplo. Belchior diz que a presença de negros em espaço de poder e privilégios gera uma estranheza. Ele diz que existem até relatos de professores negros que têm dificuldade de fazer seu trabalho.
— A presença de professores negros é tão rara como de estudantes. A USP é um ambiente em que negros têm presença quase invisível. Sempre foi uma presença ínfima, [recentemente] ela aumentou, mas não foi um aumento profundo. Uma sala que tinha dois negros passou a ter quatro.
Para ele, o que muda é que essa é uma presença organizada e que gera confrontos. Pois os negros nesses ambientes não toleram mais o racismo.
— Na escola pública isso é meio diferente porque, como é um ambiente precário, é mais permitida [a presença de negros]
Educação
O professor diz que o racismo está em pequenas ações e falas do nosso dia a dia. Palavras como “denegrir”, por exemplo, mostram que “o racismo é um elemento da própria cultura”. Ele afirma que temos que prestar atenção em cada palavra que falamos, pois elas significam coisas que, muitas vezes, não acreditamos.
— O racismo “inocente” gera violência, gera desigualdade e injustiça. Tem que combater no que tem de menor, no que parece mais frágil. Não é uma pouca coisa. Em um primeiro momento não fere ninguém, mas com o passar do tempo vai virar uma relação de opressão e violência.
No ano passado, um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) mostrou que apenas 11% dos jovens negrosno Brasil faziam faculdade
O professor diz que o racismo está em pequenas ações e falas do nosso dia a dia. Palavras como “denegrir”, por exemplo, mostram que “o racismo é um elemento da própria cultura”. Ele afirma que temos que prestar atenção em cada palavra que falamos, pois elas significam coisas que, muitas vezes, não acreditamos.
— O racismo “inocente” gera violência, gera desigualdade e injustiça. Tem que combater no que tem de menor, no que parece mais frágil. Não é uma pouca coisa. Em um primeiro momento não fere ninguém, mas com o passar do tempo vai virar uma relação de opressão e violência.
No ano passado, um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) mostrou que apenas 11% dos jovens negrosno Brasil faziam faculdade
“Me chamavam de preto”
O professor de educação física Guilherme Eurípedes Ferreira era vítima de “piadas” racistas quando estava no ensino médio. Como era um dos poucos negros na escola onde estudava, amigos brancos faziam “brincadeiras” com a cor dele.
— Eles me chamavam de preto. Na época a gente ria, mas hoje percebe a linha tênue entre piada e o racismo.
Ferreira diz que, na época, ele não via isso como um caso de racismo. Ele também fazia brincadeiras com o assunto. Tudo para ele e para os amigos não passava de “algo inocente”. Porém, com o tempo, ele percebeu que isso alimentava uma “situação complicada”.
— Eu também acabava fazendo piadinhas. Eu falava: “o professor vai me dar nota baixa porque sou preto”.
Depois de tantas brincadeiras, veio o apelido de “preto”. Se ele fazia algo errado, os amigos diziam que ele só fazia “pretisse”. Mas, Ferreira diz que, depois que começou a estudar o problema do racismo, percebeu o quanto as “brincadeiras” manifestavam um problema muito maior.
— Hoje eu já aboli isso da minha vida. Na maioria das vezes, a pessoa não está com a intenção [de ofender]. Se a pessoa não tem noção como isso é nocivo, ninguém fica triste. Mas isso acaba alimentando aquilo que é totalmente errado
O professor de educação física Guilherme Eurípedes Ferreira era vítima de “piadas” racistas quando estava no ensino médio. Como era um dos poucos negros na escola onde estudava, amigos brancos faziam “brincadeiras” com a cor dele.
— Eles me chamavam de preto. Na época a gente ria, mas hoje percebe a linha tênue entre piada e o racismo.
Ferreira diz que, na época, ele não via isso como um caso de racismo. Ele também fazia brincadeiras com o assunto. Tudo para ele e para os amigos não passava de “algo inocente”. Porém, com o tempo, ele percebeu que isso alimentava uma “situação complicada”.
— Eu também acabava fazendo piadinhas. Eu falava: “o professor vai me dar nota baixa porque sou preto”.
Depois de tantas brincadeiras, veio o apelido de “preto”. Se ele fazia algo errado, os amigos diziam que ele só fazia “pretisse”. Mas, Ferreira diz que, depois que começou a estudar o problema do racismo, percebeu o quanto as “brincadeiras” manifestavam um problema muito maior.
— Hoje eu já aboli isso da minha vida. Na maioria das vezes, a pessoa não está com a intenção [de ofender]. Se a pessoa não tem noção como isso é nocivo, ninguém fica triste. Mas isso acaba alimentando aquilo que é totalmente errado
“Ser preso porque tem back power é racismo”
Em 2014, o ator Vinícius Romão ficou preso 16 dias no Rio de Janeiro após ser confundido com um ladrão. A vítima do assalto teria apontado o jovem como o suspeito, porém ele não carregava os pertencer da mulher, nem a arma do crime.
— Eu estava andando na rua, voltando pra casa e a mulher falou que fui eu. Não investigaram, não fizeram nada. Eu não tinha nada da vítima. Eu fui preso só porque ela falou que o ladrão era negro e tinha cabelo black power.
O ator diz que, quando foi abordado pela polícia, falou que estava sendo confundido. Porém, os policiais não deram ouvidos a ele e forjaram toda a situação do flagra.
— Com certeza foi racismo. Você ser preso porque tem um cabelo back power é racismo pra mim
Em 2014, o ator Vinícius Romão ficou preso 16 dias no Rio de Janeiro após ser confundido com um ladrão. A vítima do assalto teria apontado o jovem como o suspeito, porém ele não carregava os pertencer da mulher, nem a arma do crime.
— Eu estava andando na rua, voltando pra casa e a mulher falou que fui eu. Não investigaram, não fizeram nada. Eu não tinha nada da vítima. Eu fui preso só porque ela falou que o ladrão era negro e tinha cabelo black power.
O ator diz que, quando foi abordado pela polícia, falou que estava sendo confundido. Porém, os policiais não deram ouvidos a ele e forjaram toda a situação do flagra.
— Com certeza foi racismo. Você ser preso porque tem um cabelo back power é racismo pra mim
Polícia e Justiça
Além de ter sido preso injustamente, Romão teve seu cabelo cortado na penitenciária Patrícia Acioli, em São Gonçalo. Mais uma vez, ele acredita que a ação tenha representado mais um caso de racismo.
— Eles alegam que cortam pela higiene, mas a verdade é que não tem higiene nas celas. Isso foi mais para abaixar a autoestima, para ficar vulnerável mesmo, para desprezar.
Com a ajuda de amigos, que deram visibilidade para o caso do ator, ele conseguiu provar sua inocência e saiu da penitenciária. Mesmo depois do que passou, ele garante que perdoou a mulher que o denunciou e diz que não guarda mágoas. Porém, ele entrou com um processo contra o Estado, que ainda está em andamento. Até agora, Romão não foi indenizado.
— Eu não posso aceitar que quem trabalha com a vida das pessoas comenta esse tipo de erro. É negligência.
O ator diz que nunca tinha passado por um episódio tão marcante de racismo, mesmo, muitas vezes, sendo o único negro em uma sala com 40 alunos, por exemplo. Mas ele acha que pode ter ajudado a dar visibilidade para o problema.
Dados da Presidência da República, divulgados este ano, mostram que negros e jovens são maioria nos presídiosbrasileiros. A taxa de negros encarcerados no País subiu 32% em dez anos, contra 26% de brancos
Além de ter sido preso injustamente, Romão teve seu cabelo cortado na penitenciária Patrícia Acioli, em São Gonçalo. Mais uma vez, ele acredita que a ação tenha representado mais um caso de racismo.
— Eles alegam que cortam pela higiene, mas a verdade é que não tem higiene nas celas. Isso foi mais para abaixar a autoestima, para ficar vulnerável mesmo, para desprezar.
Com a ajuda de amigos, que deram visibilidade para o caso do ator, ele conseguiu provar sua inocência e saiu da penitenciária. Mesmo depois do que passou, ele garante que perdoou a mulher que o denunciou e diz que não guarda mágoas. Porém, ele entrou com um processo contra o Estado, que ainda está em andamento. Até agora, Romão não foi indenizado.
— Eu não posso aceitar que quem trabalha com a vida das pessoas comenta esse tipo de erro. É negligência.
O ator diz que nunca tinha passado por um episódio tão marcante de racismo, mesmo, muitas vezes, sendo o único negro em uma sala com 40 alunos, por exemplo. Mas ele acha que pode ter ajudado a dar visibilidade para o problema.
Dados da Presidência da República, divulgados este ano, mostram que negros e jovens são maioria nos presídiosbrasileiros. A taxa de negros encarcerados no País subiu 32% em dez anos, contra 26% de brancos
“Nada mudou no nosso relacionamento”
No ano passado, a jovem Maria das Dores Martins sofreu ataques racistas na internet ao postar uma foto com o seu namorado. Vários usuários do Facebook comentaram a foto com dizeres criminosos como “onde comprou essa escrava?” ou “me vende ela”. Na época, ela chegou a denunciar os ataques, mas diz que até hoje não teve nenhuma resposta sobre o assunto.
— A gente quer uma resposta sobre o que aconteceu. A gente já fez a nossa parte, mas precisa de uma resposta. Eu acho que muitas pessoas [que sofrem racismo] não denunciam porque é muita impunidade. A gente quer que eles paguem pelo o que elas fizeram, mas elas vão continuar fazendo isso.
Maria diz que foi a primeira vez que se deparou com esse tipo de atitude e que para ela e para o namorado tudo foi “muito estranho” e que nunca tinha passado por “algo tão agressivo”.
— As pessoas na internet falam coisas que não falariam pessoalmente. Elas acham que é divertido, mas para quem tá recebendo aquela palavra de ódio não é divertido
No ano passado, a jovem Maria das Dores Martins sofreu ataques racistas na internet ao postar uma foto com o seu namorado. Vários usuários do Facebook comentaram a foto com dizeres criminosos como “onde comprou essa escrava?” ou “me vende ela”. Na época, ela chegou a denunciar os ataques, mas diz que até hoje não teve nenhuma resposta sobre o assunto.
— A gente quer uma resposta sobre o que aconteceu. A gente já fez a nossa parte, mas precisa de uma resposta. Eu acho que muitas pessoas [que sofrem racismo] não denunciam porque é muita impunidade. A gente quer que eles paguem pelo o que elas fizeram, mas elas vão continuar fazendo isso.
Maria diz que foi a primeira vez que se deparou com esse tipo de atitude e que para ela e para o namorado tudo foi “muito estranho” e que nunca tinha passado por “algo tão agressivo”.
— As pessoas na internet falam coisas que não falariam pessoalmente. Elas acham que é divertido, mas para quem tá recebendo aquela palavra de ódio não é divertido
Relacionamento
Ela diz que já sabe que a maioria dos comentários foram de adolescentes de São Paulo e do Rio de Janeiro e diz que a punição para esse tipo de crime deveria ser “mais rigorosa”.
— A lei é muito branda. As pessoas se escondem atrás da internet, mas pessoalmente não têm coragem de falar essas coisas.
Mesmo depois de ter passado por essa situação, ela diz que tudo foi “um aprendizado” na vida dela e que teve um retorno de pessoas que passaram pela mesma situação e que deram “muito apoio” para ela.
— Consegui superar e nada mudou no nosso relacionamento, até fortaleceu o sentimento um pelo outro.
O Mapa da Violência 2015 mostrou que o número de mulheres negras assassinadas apresentou uma forte alta em dez anos. O número de mortes de mulheres negras passou de 1.864 casos em 2003 para 2.875 em 2013, alta de 54,2%
Ela diz que já sabe que a maioria dos comentários foram de adolescentes de São Paulo e do Rio de Janeiro e diz que a punição para esse tipo de crime deveria ser “mais rigorosa”.
— A lei é muito branda. As pessoas se escondem atrás da internet, mas pessoalmente não têm coragem de falar essas coisas.
Mesmo depois de ter passado por essa situação, ela diz que tudo foi “um aprendizado” na vida dela e que teve um retorno de pessoas que passaram pela mesma situação e que deram “muito apoio” para ela.
— Consegui superar e nada mudou no nosso relacionamento, até fortaleceu o sentimento um pelo outro.
O Mapa da Violência 2015 mostrou que o número de mulheres negras assassinadas apresentou uma forte alta em dez anos. O número de mortes de mulheres negras passou de 1.864 casos em 2003 para 2.875 em 2013, alta de 54,2%
Mercado de trabalho
Porém, Gabriela diz que sempre se posiciona contra os preconceitos que aparecem no seu cotidiano e que sua luta pela igualdade é diária: “Eu não sou diferente das pessoas”. Isso fica claro quando ela foi em busca de seus direitos quando se sentiu prejudicada em uma antiga empresa que trabalhava.
No trabalho, ela e outras funcionárias foram mandadas embora. Fizeram uma festa de despedida para todas e todas foram demitidas. Depois de um tempo, todas as mulheres que tinham sido dispensadas com ela, voltaram para o trabalho, menos ela. Ela, então, entrou com o processo por danos morais contra a empresa.
— No momento em que a gente passaria a ganhar mais, aconteceu isso.
De acordo com o mais recente Censo Demográfico, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro cresceu entre 2000 e 2010. Porém, ainda existem diferenças significativas em relação aos homens, além de resultados distintos entre as mulheres brancas e negras. As mulheres jovens e negras são as que têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho, de ter carteira assinada e de conquistar salários maiores
Porém, Gabriela diz que sempre se posiciona contra os preconceitos que aparecem no seu cotidiano e que sua luta pela igualdade é diária: “Eu não sou diferente das pessoas”. Isso fica claro quando ela foi em busca de seus direitos quando se sentiu prejudicada em uma antiga empresa que trabalhava.
No trabalho, ela e outras funcionárias foram mandadas embora. Fizeram uma festa de despedida para todas e todas foram demitidas. Depois de um tempo, todas as mulheres que tinham sido dispensadas com ela, voltaram para o trabalho, menos ela. Ela, então, entrou com o processo por danos morais contra a empresa.
— No momento em que a gente passaria a ganhar mais, aconteceu isso.
De acordo com o mais recente Censo Demográfico, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro cresceu entre 2000 e 2010. Porém, ainda existem diferenças significativas em relação aos homens, além de resultados distintos entre as mulheres brancas e negras. As mulheres jovens e negras são as que têm mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho, de ter carteira assinada e de conquistar salários maiores
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