quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

CAPITALISMO FOFINHO

publicado na edição 225 da revista Caros Amigos.

O capital financeiro monopolista e sem fronteiras

Por Gilberto Felisberto Vasconcellos

Na história da acumulação com a in- dústria automobilística foi Gramsci quem cunhou o termo “fordismo”. No Brasil desde os anos 1950 o Estado financia o capital privado e subsidia o capital estrangeiro e, no meio disso tudo, medra a mistificação da dona Marina Silva que alardeia a existência de um capitalismo fofinho.

A esquerda na América Latina foi influenciada pelo stalinismo.

Na Argentina, o desenvolvimento desigual, a categoria histórica de Trotsky, foi teorizado por Abelardo Ramos a partir dos anos 1940 com a ideia da balcanização da América Latina.

Os países atrasados não deveriam seguir os mesmo passos dos países avançados. Realça--se: não devem e na realidade não podem.

Do México, 1937, Trotsky mandava recado que o nacionalismo de Vargas era uma for-ça antiimperialista. Acertou em cheio, pois em 1945 o imperialismo norte-americano o derrubou.

Lembro do meu amigo argentino Marcelo Gullo. Portugal veio para cá a fim de alcan-çar autonomia alimentar e farmacêutica. Marcelo Gullo lança seu olhar sobre o predomí-nio do Brasil na América Latina. A oratória jesuítica burocrática, vilipendiada pelo historiador português Oliveira Martins, ressoa no juízo certeiro de Abelardo Ramos acerca do formalismo da classe dominante brasileira, os proprietários de negros escravos eram positivistas e “gramáticos sutis”.

A Inglaterra perdeu o bonde na história brasileira mais ou menos em 1930, enquanto os Estados Unidos, a partir de 1945, come-çaram a dar preferência ao Brasil, e não à Argentina, o que culminou com “for export” do Brasil de 1964 em diante.

Manuel Ugarte era marxista e nacionalista: a América Latina está desmembrada, a palavra de ordem progressista é integrá-la, resulta daí que não tem o menor sentido conceber um socialismo sem pátria, mas o nacionalismo anti-imperialista tem de ser apoiado pela massa popular.

Escrevendo em 1930, Trotsky mostrou que a desesperança contrarevolucionária se dá no fascismo. Há sempre, no capitalismo monopolista, uma espécie de fascismo de reserva. Fascismo é a ditadura aberta do capital. O fascismo só vinga quando a classe operária está débil, dividida e acuada. 
Até 1924 nenhum bolchevique foi expulso por motivo político. Não se faz revolução com trabalhadores desempregados. O núcleo fundamental é a fábrica. Anarquismo é querer contar só com os desempregados. Trotsky dizia: “eu sou marxista, não bakunista”. Referia--se às leis da revolução proletária. Os Estados Unidos são marcados pelo “empirismo grosseiro e a impotência teórica”.

O grande desafio de Trotsky foi combater tanto o fascismo quanto o nazismo. Este foi visto não só através da crise econômica, mas sim pela debilidade do proletariado com dire-ção espúria do partido comunista. Eis a psicologia stalinista: “toda sabedoria do burocrata consiste em esperar, em postergar”.

O fascismo é o inimigo mortal do proletariado. Trotsky previu que a vitória do fascismo na Alemanha iria desencadear uma guerra contra a Rússia. O fascismo mobiliza as camadas altas do proletariado que têm medo de descer, organiza-as com meios financeiros para destruírem as organizações operárias.

O fascismo consiste em eliminar todos os elementos da democracia operária dentro da sociedade burguesa. O fascismo almeja destruir a vanguarda marxista e manter a classe operária em uma atomização forçada.

A socialdemocracia favoreceu o fascismo, mas atenção: é um equívoco identificar o fascismo com a socialdemocracia. Não são a mesma coisa, mas também não são radicalmente diferentes. Não expressam a dominação de duas classes irredutíveis, ou seja, são dois sistemas de dominação de uma única e mesma classe: a burguesia. O fascismo se apoia na pequena burguesia e destrói o parlamento.

Pequena burguesia irritada. Lumpemproletariado desesperado. O fascismo é um instrumento do capital financeiro. Trotsky ensinou a pensar a política por meio das classes sociais. Stalin censurou as obras completas de Lenin para o estrangeiro. O funcionário é contra a revolução socialista no mundo, porque tem privilégio e emprego garantido. Foi isso que deu a base de sustentação para Stalin. 
Em 1939 Trotsky mostrou que Hitler e Stalin eram astros gêmeos. Hitler queria redividir o mundo. A Alemanha deveria se tornar potência ou desapareceria. Hitler é produto do horror da burguesia diante de uma revolução socialista, Stalin é o horror ao povo revolucionário estrangulado pelos oportunistas e burocratas.

A revolução é a antítese da burocracia. A oligarquia stalinista sentiu pavor diante das massas. Ninguém estrangulou a revolução espanhola mais que Stalin. Este foi mais eficaz que Franco.

Trotsky achava que Stalin ia cair na sequência da queda de Hitler. O fascismo na política é a expressão do capital financeiro em sua expansão além das fronteiras nacionais. Atenção: o fascismo é produto não do atraso do capitalismo, mas de sua maturidade.

O que o argentino Abelardo Ramos fez, com primor conceitual, foi juntar o nacionalismo continental da Pátria Grande com o internacionalismo proletário da revolução permanente de Trotsky. Na América Latina, um só país em busca da realização nacional é um caminho fadado ao fracasso, assim como a revolu-ção socialista não pode ficar confinada a um país socialista isolado.

Os críticos de Abelardo Ramos são abstratos e nefelibatas quando afirmam que a hegemonia nacional peronista afastou a ação independente da classe operária, como se isso fosse decorrência de erros teóricos ou doutrinários, e não resultado da situação concreta das rela-ções entre as classes sociais.

O sonho de um país autárquico é sonho de pequeno burguês nacionalista desvairado. É impossível hoje existir um governo que não seja instrumento do capital financeiro. Nossa época é imperialista: economia e política mundiais são dirigidas pelo capital monopolista, portanto não há desenvolvimento que seja exclusivamente nacional.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é jornalista, sociólogo e escritor.

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