segunda-feira, 3 de março de 2014

O feitiço do samba: corpo e alma do Brasil

O site de notícias, "Brasil 247" publicou um excelente artigo "O feitiço do samba: corpo e alma do Brasil".  Luis Pellegrini é historiador e jornalista.

Luis Pellegrini disserta as origens do carnaval brasileiro. Ao longo dos séculos várias modalidades de música e de dança foram cultivadas e desenvolvidas pelos negros no Brasil. No início deste século várias delas se fundiram para dar origem à grande síntese musical que é o samba.
Uma dessas modalidades que convergiram para o samba foram os pregões, acalantos, lundu, maracatu, calunga.
Em todas as etnias africanas que vieram para o Brasil, os instrumentos musicais são considerados objetos sagrados. Cada um deles está ligado a um ou mais princípios divinos, e  sua presença é visível e obrigatória nos cultos. O mais famoso e que tem uma simbologia muito especial é o  atabaques.
O som rítmico emitido pelos atabaques é  um estímulo fundamental para a produção do fenômeno dos  "estados de transe mediúnico". Cada orixá possui a sua frequência vibratória ou rítmica própria. Tal frequência existe ao mesmo tempo na natureza, no elemento natural que corresponde àquele orixá - por exemplo, no caso do orixá Iemanjá trata-se da  vibração da água do mar -, e no interior da pessoa que, usando esse mesmo exemplo, é "filho de Iemanjá", ou seja, alguém que "carrega" dentro de si, como princípio energético predominante, aquela mesma vibração de Iemanjá. Submetido ao estímulo sonoro de um dos ritmos de Iemanjá, o "filho" desse orixá dança e ao dançar desperta e potencializa a sua "Iemanjá interna". Quando esta estiver bastante ativada, estabelece-se o "transe", que nada mais é do que a conexão mais ou menos profunda e bem sucedida das energias do orixá interno com as energias daquele mesmo orixá na natureza. 
O autor diz sobre a origem do carnaval:
" 'Os negros',  diz Roger Bastide em Brasil, Terra de Contrastes, 'não contentes por terem transferido da África  seus próprios divertimentos, invadiram  o folclore português e cristão e o africanizaram em parte'.  Como explica ainda Bastide, se o carnaval europeu, como aquele de Veneza, é o triunfo do indivíduo, que escapa durante três dias à atmosfera cinzenta da vida cotidiana para participar da alegria da multidão, o carnaval afro-brasileiro é, ao contrário, coletivo. São os clãs tribais, as "nações", que se dirigem em grandes grupos, com seus reis e rainhas, com  suas oriflamas e seus animais totêmicos, das favelas e subúrbios proletários para o centro da cidade. Nas escolas de samba, os mestres de samba exercem rigoroso comando.  Revivem assim a antiga estrutura social que a escravidão destruíra."
E ainda:
"O samba brasileiro é a prova evidente de que as duas civilizações, a católica europeia e a xamânica africana, que parecem tão afastadas uma da outra, não precisam se chocar como forças antagônicas, mas podem, como disse ainda Bastide, 'compor uma única música a duas vozes: o órgão barroco e o tambor febril; os santos óleos do batismo e dos moribundos, e o azeite de dendê que escorre das pedras sagradas da África; a mística dos santos e a mística dos orixás'."

O artigo pode ser acessado no endereço: http://www.brasil247.com/+mr6hz

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